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domingo, junho 22, 2003

PORTUGAL BOBÓNICO

De cada vez que se fala deste nosso querido e abençoado país, normalmente é para dizer o piorio, para nos menosprezarmos e desclassificarmos aos olhos da Europa.
Bom, se é verdade que de facto muitos são os erros, atrasos ou falhas, também não é menos verdade que de vez em quando somos capazes de por todos de boca aberta com a audácia das nossas propostas, não, não estou a pensar nos nossos governantes, que Deus guarde, a discutir a quota do leite ou a febre da carraça, não, estou a referir-me a outras e se calhar mais complicadas batalhas pelo bem-estar de todos os cidadãos.
Mas qual sofisticada Dinamarca, qual fraterna e chauvinista França, qual rica e sobranceira Alemanha, qual democrática Inglaterra, quais prósperos Nórdicos?!
Só aqui neste cantinho é possível assistir a algo tão fascinante quanto ver o Corpo de Segurança Pessoal da PSP e os presos do Linhó, mais propriamente da Unidade Livre de Drogas, a aprenderem etiqueta e boas maneiras com essa incontornável mestra que dá pelo nome de Bobone e que tanto nos tem ajudado ao longo dos anos com os seus inefáveis livros.
É verdade meus caros, podeis fechar a boca. A grande educadora não satisfeita com as ditas publicações sem as quais, não duvido, seríamos uns anormais, pouco acima de irracionais, permanentemente perdidos e envergonhados em qualquer festinha ou festança, nunca sabendo se deveríamos segurar o croquete entre o polegar e o indicador ou se seria mais chique segurá-lo entre o mindinho e o anelar ou quiçá com pinça!
E o guardanapo, que fazer com ele? Como limpar os beiços sem que nos atirem longos e desmoralizantes olhares como se de animal raro se tratasse?! Como e onde colocar o referido utensílio? No colo? Ao pescoço? Em vê, em losango ou rectângulo?! A coisa piora se o guardanapo for de papel, mas penso que de isso a senhora não fala! Credo que horror!
Pois é, já estou a imaginar depois destes cursos, os "armários" da segurança em vez de empurrarem à bruta, a pedirem com toda a delicadeza, talvez, quem sabe, com subtil, vénia, impecáveis nas suas calças cinzentas, casaco azul, sempre abotoado e apenas com o botão da última casa sem estar fechado, e sapato preto, especialmente se for à noite, altura em que esta cor de sapato é imprescindível como aconselhou a grande e sapiente especialista, a pedir com toda a paciência e suavidade, a um estranho que se aproxime do seu protegido, a convidar que o mesmo se afaste, por "amor da santa", tudo isto envolvido num esplendoroso sorriso e seguido de convite para um chazinho lá em casa, na primeira oportunidade!
Mas não ficou por aqui a nossa paladina. Não! Tarefa muito mais especial estava para ser atacada quase de seguida.
É que não contente com tamanha proeza, não contente com introduzir um pouco de delicadeza em tão necessitada profissão, e num derradeiro golpe de génio só ao alcance dos imortais, foi, toda fresca e bem disposta, ensinar boas maneiras aos reclusos da prisão do Linhó, mais propriamente na Unidade Livre de Drogas!!
Pasmados com tamanha abnegação e entrega à causa?! Pois também eu. Isto é que é uma profissional!! Deus a abençoe!
É verdade que foi apenas uma palestra, mas quem alguma vez fez mais pelos presos portugueses que atire a primeira pedra.
Perante uma plateia de 60 alunos, todos muito jovens, que isto é de pequenino é que o tal legume se torce, foi imensamente aplaudida no final, por este grupo cujos elementos, e segundo a própria, " se interessaram muito pelas questões do Jet-set, e aprenderam alguma etiqueta que infelizmente nunca tinham aprendido em casa"!! E esta!? Hem!? Que surpresa, e nós a pensarmos que a maior parte dos ocupantes das nossas prisões eram autênticos ases nas artes da etiqueta, como podemos andar tão enganados!
O mundo da droga nunca mais vai ser o mesmo, pelo menos este educado grupo, se voltar àquele mundo, vai fazer furor pelas suas maneiras delicadas de preparar a dose! Mas é sobretudo o alcance profiláctico de tudo isto que convém realçar, sim pois não estou a ver um elemento deste grupo, se eventualmente tiver uma recaída, a partilhar seringas com outros pois isso seria uma grande porcaria que a mestra, a querida Bobone, nunca lhe perdoaria, coisa insuportável para tal mentalidade e personalidade!!
Só espero que esta vontade louvável de por os portugueses sintonizados nesta fantástica onda da etiqueta e correcção, esta tarefa grandiosa de deixar de boca aberta a Europa dita evoluída, não esmoreça por parte da taumaturga, sim por que me parece que ninguém terá dúvidas em elevar tais sucessos à categoria de milagres, e num futuro bem próximo a senhora dê cursos por todo o território e a todos os grupos, desde guardas a pastores da serra!

JOÃO AGOSTINHO



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