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sábado, maio 24, 2003

O bêbado

O rectângulo está perigoso.
A confusão é tanta, os episódios, do perigoso ao caricato, são em tal número que confesso começar a recear que esta pobre democracia venha a passar por maus bocados.
Não estou a pensar como é evidente que possamos, a breve prazo, voltar às agruras provocadas pelas malfeitorias de um qualquer regime ditatorial ou sequer autoritário, não, mas já do facto de o mesmo optar pela via chantagista não diria outro tanto, pois que o balão de ensaio está lançado quando, por exemplo, para que Canas de Senhorim possa ser elevada a Concelho, propõe-lhe o governo que leve e cale com uma unidade de armazenamento temporário de resíduos industriais perigosos no seu perímetro.
Bem visto, sem dúvida, aborta-se a coincineração, sem conseguir provar a ninguém que não é o melhor método, se é que pode haver métodos aceitáveis com estas nefastas lamas, com estes execráveis resíduos expelidos pelas cloacas do progresso, e depois como ninguém quer os miasmas na proximidade vai-se para a velha fórmula, queres concelho, então toma lá a factura mal cheirosa, é bonito, é sobretudo edificante e claramente democrático, percebo na perfeição, quem quer muito um porco tem o dever de levar o estrume de todos os outros cá do rincão, é justo!
Também não estou a pensar, como é óbvio, em qualquer levantamento militar, não, e logo agora que os militares estão na eminência de receber uns brinquedos novos, de lata é certo, mas não deixam de ser brinquedos, especialmente os submarinos de que a gente precisa à brava para combater os pescadores espanhóis, impedindo-os de secar as nossas costas; mas sobretudo agora que Portugal vai comandar o grupo de trabalho para formação das futuras forças especiais da força de intervenção rápida da U.E. E esta , hem!
Toma e embrulha, fiquei em definitivo rendido à capacidade dos nossos queridos governantes, que Deus guarde!
É que de facto se há coisa de que nós percebamos é de forças especiais.
Não perceberam a tempo os nossos queridos compadres que a nossa verdadeira vocação, aquilo para que estamos fadados, é o mundo complexo e perigoso dos telefones, das comunicações e fundamentalmente das escutas. Penso que os compadres da U.E. se precipitaram, não esperaram para ver as últimas performances na capacidade de escutar, de ver como escutamos com técnica e à vontade, autênticos ases na arte de bem colocar a escuta, de manusear a extensãol! Verdadeiros mestres na intercepção do que os outros andam a dizer, seja uma conversa do mais eminente dealer a pedir mais uns quilos de mercadoria, seja um apelo do P.R. para que o Juan Carlos jogue com ele uma partidinha de golfe.
Também não temo, como dizia um bêbado lá da minha rua, que depois do quinto copo insiste em ateimar com toda a gente que anda sob escuta, que ainda venhamos a cair numa ditadura dos juizes, credo que alarvidade, só possível, seguramente e do meu ponto de vista, graças aos efeitos vaporosos e perversos do álcool. Mas não deixam de me deixar a pensar estas diatribes do tal ébrio, que afirma também, com a lucidez possível naquele alqueva de álcool, que não somos um país, somos uma prisão preventiva!
Mais uma alarvidade alcoólica, como é óbvio, mas de facto, oiço o bêbado e não consigo evitar começar a ficar um bocado confuso e, por que não apreensivo, com tanta prisão preventiva, umas para não destruir provas, outras para não pressionar a justiça, outras ainda para não haver hipóteses de fuga! Fuga, alguém falou em fuga!?
Não, parece-me, e sem querer descredibilizar a justiça, que de facto deve ser dura e sem contemplações com quem prevarica, e sobretudo no que a alguns crimes diz respeito, que quando se manda alguém para a prisão, mesmo preventiva, é de facto para a prisão que o cidadão está a ser enviado, e seja culpado ou inocente aquela já ninguém lha tira.
Parecer-me-ia portanto que uma medida destas deveria ser a última a ser accionada, mas na realidade parece-me que está a ser a primeira!
Por outro lado uma senhora é confrontada com umas embrulhadas contas que passavam inclusivamente por sacos coloridos, é informada de que também ela vai dentro- ou terá sido alguma escuta!?- e ala, que se faz tarde, rumo a Terras de Vera Cruz.
Pois o bom povo o povo “anónimo”, não só achou que a senhora tinha feito muito bem, como quase a beatificou dedicando-lhe até procissões como se da sua homóloga da Cova de Iria se tratasse, e não contente com isso sovou um palerma que teve a ousadia de dizer ao pessoal lá do burgo que, afinal, “ a presidente ia nua “.
Como não perceberam a metáfora, e pensaram que estava a ofender a veneranda senhora, vai de desancar o lorpa que aquilo ali o energúmeno é quem mais ordena!
É por tudo isto que, e apesar de não me parecer que haja algo de muito grave a temer, ou para breve, conforme deixei bem expresso, penso, me continua a parecer, como disse de início, que o rectângulo está perigoso. É cá um pressentimento!
A propósito já não vejo o bêbado da minha rua há uns bons dias, será que foi preso preventivamente!!?

JOÃO AGOSTINHO

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