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segunda-feira, maio 05, 2003

O falcão era de calcário. O cabide jazia na estrada. Bogart hesitou. “ Damned it “ exclamou!
Nada disto indiciava Natal! Talvez o frio, mas nada mais. Que faço eu, estrela de cinema, entre um falcão e um cabide?!
Terá o falcão a ver com o facto da rainha de Inglaterra ganhar 1256 contos/hora, considerando uma semana de 40 horas?! Ora aí estava uma possibilidade! Mas trabalhar 40 horas por semana naquela idade simpática, tão simpática quanto o “ conto “ que vai desaparecer, sem honra nem glória, com a entrada do Euro, coitada da senhora, 40 horas é uma exploração! Teria o cabide a ver com a constatação de os ingleses não se considerarem europeus, isto a fazer fé naquele senhor que afirmava mais ou menos isto: “ Aqui na Europa são loucos, na Inglaterra também os há, mas são diferentes !“
O falcão poderá estar relacionado com aquelas bibliotecas que um conhecido ministro visita, daquelas com livros, isto tendo em conta a sua, pública afirmação: “ não vou a nenhuma biblioteca que não tenha livros!? “ Bem visto! Eu prometo desde já que também não, a bem da cultura!
Bogart coçou a cabeça. E o cabide?! Aspirou três longas fumaças do seu inseparável cigarro. Estaria o cabide relacionado com aquele teutónico treinador de lusa equipa, que depois de passar uma semana inteira a dizer que os seus jogadores eram maus demais para serem verdade, ainda os culpou por terem sido sovados em terras galegas?!
Nã, escassa explicação para resolver tal enigma, até porque não só o “ herr “ continuou na dele, como novo indício se imiscuiu sub-reptício, como hipótese de solução, com contornos russos e laivos tchetchenos! Quem não saísse de Grosny até determinada data seria considerado terrorista!! Assim, sem anestesia, gritado ao mundo, com falcão mas sem cabide!
Nã! A solução para o enigma do falcão e do cabide estava cada vez mais longe!
Pondo a hipótese de o Barclays ao manipular acções e pagar de multa 1000 contos, poder explicar o cabide, continuava o falcão sem encaixar em mais esta teoria?! “ Damned it, again! “
Uma hipótese, abrangente, seria a constatação de que a Eritreia e a Etiópia sendo dos mais pobres países de África eram dos mais bem armados também – será por isso que o homem nasceu em África? – mas não chegava, ainda, para o espírito arguto de Bogart.
Talvez o referendo que aprovara a disponibilização de 380 milhões de contos para que os nova-iorquinos passassem a poder utilizar o telemóvel no “ underground “ – o metro lá do sítio - estivesse de alguma forma, ainda que vagamente, relacionado com o falcão, mas o pormenor do calcário estragava tudo, ainda se fosse betão! Nã!
Para baralhar ainda mais, o cabide não teria, com toda a certeza, a ver com os dois hambúrgueres que a BBC anuncia, num programa diário, como podendo ser servidos a cada um dos habitantes da terra só com o aproveitamento dos desperdícios – e as crianças senhor?! Programa, aliás que só nos consegue arrepiar de angústia face aos números com que nos bombardeia, não há termo mais correcto, tantos são os milhões de armas e os biliões de munições que nos anunciam para o mundo em 2000! Para logo a seguir sermos brindados com um peditório para não sei que conta de não sei que banco! Talvez o Barclays no intervalo das manipulações!
Nã! Quatro sentidas fumaças depois Bogart desconfiou de tudo isto. Estava como começara.
Dupont, que estava ao lado, pois “ ajudava “ nas investigações, exclamou: “ Está complicada a solução !” Ao que Dupond contrapôs: “ E digo mais, está complicada a solução!”
Resolveu ser ele a deixar Casablanca, rumo a Lisboa, no famoso avião do famosos filme, que já todos viram centenas de vezes sem saberem bem porquê, incluindo eu apesar da idade, sufocando o seu enorme altruísmo e deixando para trás o famoso casalinho, pois algo lhe dizia que na Cidade Branca encontraria a resposta..
Em vão o fez pois continuou sem perceber por que é que o falcão era de calcário e o cabide jazia na estrada., pior, juntou mais uma peça ao enigma: Uma alface que jazendo nos braços da Senhora, sob o olhar ternurento de São José, quase gerava apoplexias várias em “ cabidos “ e “falconetes de sotaina “! Deu mais três prolongadas fumaças no seu inseparável cigarro e perdeu-se na noite, inquieto, pensando quão aberrante é o homem mai-la sua aberrante inteligência, e deu por encerrado o caso!
Para os que neste momento, perplexidade estampada no rosto, acham que isto nem surrealismo é, mas sim perfeita loucura, divagações oníricas cá do rapaz, ou já reflexos do BUG do ano 2000, só pergunto: E o mundo?! Está como?! PIM!
UM 2000 FABULOSO PARA TODOS VÓS!

Bogart não conseguia afastar uma certa irritação que se lhe colava ao corpo como a roupa ensopada pela maldita chuva que não parava há três dias, a cidade branca quase parecia cenário de um dos filmes do Fantasporto!
Parecia que alguém roubara o Anticiclone dos Açores.
Ou então que aqueles senhores Russos que tinham chegado apostados em fazer chover no Alentejo, precedidos da fama de controlar as nuvens de tal modo que conseguiam que não chovesse nas paradas militares do antigamente, se teriam enganado, ao que tudo indicava, na pontaria, e em vez de contribuírem com tão prosaica quão “ índia “ ciência para ajudar a encher, daqui a muitas luas, o Alqueva estavam na iminência de alagar a cidade branca, enfim, manias, ousadias e teorias.
Resolveu no entanto voltar a sair de casa , puxou a húmida gola da inseparável gabardina para a nuca, deu três fumaças no companheiro de sempre e aventurou-se na noite.
Quando ia a atravessar no sítio do costume, e já com o pé no ar para começar a travessia da rua, teve que lançar mão de todos os seus recursos físicos para não ser cilindrado por um bólide voando a pelo menos 150 à hora! Ficou estupefacto e sem pinga de sangue mas quando atentou melhor reparou que a costumeira “ zebra “ já lá não estava! “ Damned it! “
Se havia coisa que não conseguia entender eram estes súbitos desaparecimentos de “ zebras “ na cidade branca, sempre que se faziam obras no asfalto.
Não percebia tampouco por que é que as ruas tinham todas ou quase todas cicatrizes e assimetrias incríveis resultado dessas mesmas intervenções.
Por último, não percebia por que carga de água – já agora rimemos com o tempo – insistiam em colocar as tampas dos colectores a um nível mais baixo. Seria para testar amiúde a robustez das suspensões dos carros vendidos na cidade branca!?
Entrou no metro e nem uma moeda lhe apeteceu dar ao habitual cego, mai-la sua inseparável concertina, da verde linha Caravela.
Estava mesmo chateado, não era só a ausência de casos que para tal contribuía, não era só a maldita chuva que não parava, era sobretudo aquela história da ascensão ao poder dos neonazis austríacos.
A serpente voltava a levantar a cabeça!
Mas como era possível tal, decorridos que eram tão poucos anos sobre a barbárie nazi!? Sentiu um frémito frio e molhado só de pensar nos anos da 2ª Guerra Mundial, ainda bem frescos na memória.
E admirava-se ou melhor ficava deveras confuso quando ouvia muita gente a dizer que os tempos eram outros, que agora estava tudo controlado, que os países da União estavam a entrar em histerismo, que não era lícito isolá-los politicamente pois haviam sido eleitos pelo povo que é soberano em democracia, sei lá um rol, mais longo que a sua semanal lista da lavandaria, de cautelas e caldos de galinha que de todo não entendia.
A última que o faria rir às lágrimas se não fosse a gravidade da situação era a daquela ministra do novel “ velho “ governo austríaco que dizia que o líder do “ ofídico “ – nunca esqueceria “ O ovo da serpente “ - partido, tivera uns discursos infelizes mas já tinha pedido desculpa! Como se as desculpas limpassem o cérebro de quem defendeu por exemplo “ a mãe austríaca pura!!” “ Damned it ! “ Não será isto a renovação da teoria ariana do louco do candidato a pintor que nunca o foi, se calhar para mal dos nossos pecados?! Mas por que é que não deixaram o homem entrar para a escola de pintura?! “ Damned it, again! “
Desceu na Baixa Chiado e ao percorrer aqueles enormes corredores daquela imensa estação, onde verificou que o que lhe tinham confidenciado acerca de infiltrações de humidades nas paredes era mesmo verdade, já se formavam estalactites nalguns sítios facto que ainda o intrigava mais do que o desaparecimento das zebras e os relevos das vias, a não ser que fosse para turista rir, recordou o cheiro do medo com que tantas vezes contactara em Casablanca.
Chegou por fim ao bar de sempre para um retemperador copo e deu de caras com os seus caros Blake e Mortimer, um cada vez mais louro e o outro cada vez mais ruivo. A grande vantagem dos heróis de B.D. é que nunca envelhecem, nem uma ruga, nem um cabelo branco.
- Hello! - Lançou-lhes, puxando uma cadeira e fazendo sinal ao “ barman “ – Então deixaram Londres para se meterem neste dilúvio!? Que fazem por aqui? Se vieram em busca de sol bem foram enganados!
- Bogart! “ Old chap “! Pois és mesmo tu!? - Gritaram quase em uníssono – E tu não devias estar em climas de igual modo mais secos?
- Eh! Mas vim aqui resolver um caso e apaixonei-me por esta cidade.
- Bom , nós estamos em trânsito, ao serviço do Intelligence Service, em missão altamente secreta que obviamente só a ti revelamos tendo em conta a amizade que nos une – acrescentou sussurrante Mortimer por entre baforadas do seu cachimbo.
- Vamos tentar travar uns indivíduos bem mais perigosos que o Prof. Sato, que estão a proliferar em certas zonas da Europa – continuou Blake, no mesmo tom e reacendendo o cachimbo.
- Bom, palpita-me que vão caçar serpentes.
- Bravo! Arguto como sempre! É mesmo isso. E passámos por aqui para receber as últimas instruções do grande comandante e mentor desta operação.
- Já sei - quase gritou Bogart – O Engenheiro, “ right “!?
- Arguto como sempre!!

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